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Gilberto Gil e Chico Buarque rejeitam o ‘cálice’ da censura em emocionante e histórico reencontro em show no Rio

Convidado por Gil, Chico participa da turnê ‘Tempo rei’ para cantarem juntos até o fim a música que a ditadura os impediu de mostrar em maio de 1973. Gil...

Gilberto Gil e Chico Buarque rejeitam o ‘cálice’ da censura em emocionante e histórico reencontro em show no Rio
Gilberto Gil e Chico Buarque rejeitam o ‘cálice’ da censura em emocionante e histórico reencontro em show no Rio (Foto: Reprodução)

Convidado por Gil, Chico participa da turnê ‘Tempo rei’ para cantarem juntos até o fim a música que a ditadura os impediu de mostrar em maio de 1973. Gilberto Gil e Chico Buarque vivem momento histórico no Rio de Janeiro ♫ ANÁLISE ♬ Além de emocionante, foi histórico o reencontro de Gilberto Gil com Chico Buarque no show Tempo rei, na apresentação feita por Gil na noite ontem, 1º de junho, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro (RJ). Sim, os cantores fizeram história e justiça, celebrando a liberdade de poderem cantar juntos – enfim – Cálice, a música que compuseram em parceria, em 1973, para denunciar o horror da censura. Sim, os cantores fizeram história e justiça, celebrando a liberdade de poderem cantar juntos até o fim, pela segunda vez, Cálice, a música que compuseram em parceria, em 1973, para denunciar o horror da censura. A primeira vez foi em julho de 2018, em festival de caráter político organizado no Rio de Janeiro para reivindicar a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva, então preso em Curitiba (PR). Vamos à história: em 11 de maio de 1973, quando se apresentavam no segundo dos três dias do evento Phono 73, Chico Buarque e Gilberto Gil tentaram cantar a música que haviam feito juntos há poucos dias, Cálice, mas não puderam mostrar a composição ao público. Os microfones de Chico e Gil foram sendo sucessivamente desligados por fiscais federais que recebiam ordens dos censores do governo ditatorial do então presidente do Brasil, Emílio Garrastazu Médici (1905 – 1985). O episódio ficou marcado como uma das ações mais truculentas da censura na MPB e fez o evento da gravadora Philips ser página infeliz da história cultural e política do Brasil. Através de depoimento gravado no telão, Chico Buarque vem contando a história da música para o público que tem lotado os shows da última grande turnê de Gilberto Gil, Tempo rei, em rotação pelo Brasil desde 15 de março. Gilberto Gil (à esquerda) e Chico Buarque cantam ‘Cálice’ em show no Rio Reprodução / Vídeo Ontem, 1º de junho de 2025, a participação de Chico no show de Gil extrapolou a esfera virtual. Chico Buarque foi o convidado-surpresa de Gilberto Gil na última apresentação da segunda passagem da turnê Tempo rei pela cidade do Rio de Janeiro (RJ). O reencontro foi regido pelo afeto entre os artistas, ambos já octogenários e com obras entronizadas no panteão da música brasileira. Novamente juntos para cantarem Cálice em tons serenos, com as almas pacificadas 52 anos após o encontro tenso do Phono 73, os artistas rejeitaram o cale-se da censura (oficialmente extinta em 1988) e cantaram a música que, proibida em 1973 logo após o Phono 73, somente foi liberada para gravação em 1978. Chico a gravou naquele mesmo ano de 1978 no álbum Chico Buarque (1978). Gil, curiosamente, nunca incluiu Cálice em álbuns oficiais da discografia. Gil gravou Cálice somente em 2011 no álbum ao vivo de duetos Gil + 10 – Gilberto Gil convida, em dueto com Milton Nascimento. Em 2017, a caixa de CDs Gilberto Gil – Anos 70 ao vivo, produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes com o aval do artista, revelou inédito registro ao vivo de Cálice por Gil em um dos três discos, Gilberto Gil ao vivo – USP [1973]. Este disco apresentou a gravação integral do show feito por Gil em 20 de maio de 1973, no formato de voz & violão, na Universidade de São Paulo (USP). No show, Gil cantou duas vezes a recente e então já censurada Cálice para a plateia formada por estudantes paulistanos. Contudo, por maior que seja o valor documental da gravação desse show do circuito universitário, nem um desses registros atenua a importância histórica do reencontro de Gil com Chico no palco da turnê Tempo rei para cantar o que foi proibido em 1973. Na plateia, muitos choraram pela dimensão política da reunião dos cantores em cena, em um Brasil que respira os ares da democracia. Graças à tecnologia da era digital, registros do número musical já estão nas redes sociais em fragmentos ou mesmo na íntegra, para que todo o público brasileiro possa testemunhar esse momento antológico da música brasileira. Cálice é um dos hinos de resistência contra a tirania. Um libelo a favor da liberdade. O teor da canção – ouvida na turnê de Gil com arranjo que concilia o lirismo das cordas com o tom épico das percussões – potencializou a emoção do público diante do reencontro de dois ícones da MPB perseguidos pela ditadura, mas que jamais se calaram, com ou sem microfones. O reencontro de Gilberto Gil (à esquerda) e Chico Buarque é marcado pelo carinho entre os artistas Reprodução / Vídeo

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