cover
Tocando Agora:

Nina Wirtti e Guto Wirtti quebram a corrente de singles românticos do Dia dos Namorados com lamento sertanejo

Irmãos lançam em 12 de junho refinada gravação da guarânia ‘Meu primeiro amor’, ecoando sofrência ouvida no Brasil em grandes vozes desde 1952. Capa d...

Nina Wirtti e Guto Wirtti quebram a corrente de singles românticos do Dia dos Namorados com lamento sertanejo
Nina Wirtti e Guto Wirtti quebram a corrente de singles românticos do Dia dos Namorados com lamento sertanejo (Foto: Reprodução)

Irmãos lançam em 12 de junho refinada gravação da guarânia ‘Meu primeiro amor’, ecoando sofrência ouvida no Brasil em grandes vozes desde 1952. Capa do single ‘Meu primeiro amor – Lejania’, de Nina Wirtti e Guto Wirtti Pintura de Luciana Nabuco com design de Mauro Aguiar ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Meu primeiro amor – Lejania Artista: Nina Wirtti e Guto Wirtti Cotação: ★ ★ ★ ★ ♬ Dia dos namorados é data que motiva lançamentos fonográficos de romantismo derramado, por vezes açucarado. Irmãos de origem gaúcha, a cantora Nina Wirtti e o multi-instrumentista Guto Wirtti – em evidência como baixista na banda arregimentada por João Bosco para o show Boca cheia de frutas – quebram essa corrente de singles românticos com sofrência sertaneja das mais doídas. Em 12 de junho, os irmãos lançam single com abordagem contemporânea de Meu primeiro amor, versão em português da guarânia paraguaia Lejanía. O single Meu primeiro amor – Lejania expõe na capa uma reprodução da pintura Jurema, obra da artista Luciana Nabuco. Sem soar modernosa, a gravação de Meu primeiro amor por Nina Wirtti e Guto Wirtti tem timbragem atual, mas preserva a melancolia profunda e o lamento sertanejo da guarânia Lejanía é composição de autoria do compositor, violonista, bandoneonista e maestro paraguaio Hermínio Giménez (1905 – 1991). A guarânia foi composta em 1937, quando Giménez tinha 32 anos e morava em Buenos Aires, na Argentina. Escrita em espanhol, a letra original da guarânia já carregava a nostalgia do primeiro amor. No Brasil, a saga de Lejanía começou em 1952, ano em que a dupla sertaneja Cascatinha & Inhana – formada pelos cantores paulistas Francisco dos Santos (1919 – 1996) e Ana Eufrosina da Silva (1923 – 1981) – lançaram a versão em português intitulada Meu primeiro amor, escrita pelo compositor paulista José Fortuna (1923 – 1993) em parceria com Pinheirinho Júnior. Embebidos em desilusão e tristeza, os versos em português acentuaram a nostalgia da letra original de Hermínio Giménez e, em sintonia com a melodia tão simples quanto aliciante, fizeram de Meu primeiro amor um dos maiores standards da sofrência do cancioneiro nacional. Ao longo dos 73 anos do registro fonográfico original em português, a guarânia já mereceu gravações de duplas sertanejas, de cantores identificados com o cancioneiro mais sentimental – como Angela Maria |(1929 –2018) e Agnaldo Timóteo (1936 – 2021) – e de vozes da MPB, como Maria Bethânia, cantora que desde 1973 volta e meia inclui Meu primeiro amor nos roteiros de shows que geraram discos ao vivo. A corrente gravação de Nina Wirtti e Guto Wirtti refina a sofrência com o canto mais contido de Nina – em que o sentimento é mais interiorizado, mas está lá – e com os violões de Guto tocando melodias em terças como ecos de um Brasil rural, celeiro para o cultivo da guarânia em serestas com cantos em família e em duetos. Guto Wirtti (violões, contrabaixo, synths e efeitos) experimenta sonoridades eletrônicas em tons sutis e, mais para o fim do fonograma, faz breve segunda voz na bonita gravação. Pelo teor tristonho, o single Meu primeiro amor – Lejania é mais indicado para corações solitários que nada terão a fazer em 12 de junho. Para os irmãos, filhos do cantautor gaúcho Antonio Gringo, a guarânia puxa o fio da memória afetiva da infância vivida no sul do Brasil.

Fale Conosco